domingo, 30 de setembro de 2007

Amiga não é pra essas coisas

Betina está comemorando os quarenta e cinco anos na maior felicidade. Trabalha em seu próprio atelier para uma excelente agência de publicidade de São Paulo. Está casada com um escritor. Vive bem, numa ótima casa, com os filhos do primeiro casamento dela e a filha dele, uma universitária bonita, inteligente e que se tornou uma amiga.

Cinco anos atrás, a vida era outra. Tantos sonhos haviam ficado pelo caminho. O saldo não era lá essas coisas. O casamento, um mar de espinhos, cheio de idas e vindas, já não rendia mais nada. O emprego de ilustradora estava abaixo do talento de Betina, mas pagava as contas. O melhor de tudo eram os três filhos. Um casal de adolescentes e uma menina de nove anos, fruto de uma das vindas do casamento.

Betina faz o balanço dos quarenta anos e decide mandar o casamento às favas. Passa um mês, um mês e pouco e ela meio que volta com o ex-marido. E engravida de novo. Betina não queria outro filho de jeito algum, nem que fosse feito de ouro. Mas acabou querendo. Um mês antes de Joaquim nascer, o casamento acabou de vez.

Joaquim não era de ouro, mas quase. Era uma gracinha de bebê, com covinhas e cachinhos dourados. Enchia a vida de Betina e dos irmãos de alegria. E a vida ia retomando o rumo. Até que, alguns meses depois que Betina retornou ao trabalho, houve um corte na empresa e lá se foi o emprego de meia-tigela.

O ex-marido- que nunca tinha um trabalho decente- sequer garantia a pensão dos meninos. Ajuda dos pais, nem pensar. Betina não pedia de jeito algum.
Ouvir a eterna ladainha da mãe sobre o casamento falido, os quatro filhos que teve com o imprestável, simplesmente não valia a pena. Betina não se rendia fácil.

No meio dessa situação quase trágica, ela jamais deixava baixar a energia o otimismo, o ânimo com a vida. Sempre foi daquelas pessoas que tem certeza de que o tempo traz uma solução pra tudo. Enquanto isso, Betina foi vivendo vivia de uns trabalhos frilas conseguidos aqui e ali e também da poupança e do FGTS acumulado durante anos. Mas não aceitava qualquer trabalho. Pensava, isso sim, em mudar para melhor. Enquanto isso, tome de frila de arte final, design gráfico, diagramação, ilustração, o que fosse. Criatividade e talento, pelo menos não faltavam a Betina. E o computador – uma estação de trabalho da Mac- comprado em tempos de vacas mais gordas – ainda era uma ótima ferramenta para que ela desenvolvesse mais ainda todo malabarismo de quem não tem emprego fixo.

Joaquim estava com quase um ano e Betina tinha acabado de ganhar uma boa grana num frila dos bons. Comprou uma roupa nova, coisa que não fazia desde a gravidez. E aceitou o convite de uma amiga para ir a uma festa descolada, com gente nova, interessante, diferente, o que não fazia há mais tempo ainda.
A festa era tudo o que prometia. Lugar lindo, gente bonita por todo o lado. Betina, mulher muito bonita, apesar dos maus-tratos da vida, chamou a atenção de um cara simpático, um médico, que a amiga apresentou.
Os dois ficaram juntos a festa inteira. Tomaram champanhe, dançaram, mas a maior parte do tempo conversaram um bocado. Papo agradável, engraçado. E estavam os dois se divertindo, rindo pra caramba, quando chega a tal amiga. Completamente de porre. Dá aquele abraço de bebum no cara e começa o discurso pastoso:
- Dzudzu, meu amigo, eu acho a Betina do gacête. Mulher "ingrível". Quarenta e dois anos, quatro filhos, sozinha, dzesembregada, nunca dzeixa a pfeteca cair.
Em questão de segundos, o médico bonitão se desvencilhou do abraço da bêbada. Pediu desculpas. Disse que o bipe estava chamando e deu no pé.

Sandra Moreyra

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

PREMIAÇÃO VEJA RIO - SUSHI LEBLON MELHOR JAPONES

Comemoração no ATLANTICO e no SUSHI LEBLON.
Em ordem:Geff e Carolina; Carolina e Henrique; Ticiana; Bel; Ana e Bia;Carolina e Marina; Arnaldo e Luis; Marina, Edvar, e Geff;Geff e carolina; etc..
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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

ESTÔMAGO



Este é o João Miguel, "Alecrim", ator principal do filme ESTOMAGO.
A primeira exibição numa sala de cinema, foi hoje no Cine Odeon às 14:15 hs.
O filme é imperdível !!!!! Registrem !!!!
São risadas da vida como ela é. Estomago mostra o cenário da gastronomia tão perto e tão longe de nós.
Os atores dão show de atuação, difícil dizer qual se destaca mais.
Depois do Festival com certeza entrará em cartaz !!!

MARINA

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Boca


Boca de desejos carnais,
imateriais
Boca que se abre em beijos,
proíbe intimidades,
esconde verdades
Por onde passeiam meus prazeres
saem mil palavras
Palavras que adoçam,
que ferem,
e interferem
Nas nossas vidas
Nas nossas idas e vindas
Boca em que cometo exageros
permito seu gozo,
meu gozo,
E te como sem tempero

Ticiana

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

TERRAL

Terral.
Vento de terra.
Sopro de angústia e solidão,
traz em si o profundo,
a sujeira.
redemoinho de emoções.
Bate portas,
Levanta poeira,
Faz cair as folhas ainda verdes
Esparramando-as no chão.
Grito no peito,
Calor,
Bafo de indecisão.
Certeza de mudança.

Na seqüência, Sudoeste.
Traz do mar a força.
Chuva, limpeza.
Carneiros no mar e
Galos no céu.
A temperatura baixa,
Recolhimento,
Introspecção.
A verdade fria,
Sem enganos.

Como discutir com a natureza ?

MARINA

sábado, 22 de setembro de 2007

uma mulher que come...pepino


clicada por Ticiana Azevedo na Cidade Proibida

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Casablanca, mas só metade

Anita conheceu João Vitor na casa de uma grane amiga. Não demorou muito e já estava doida por ele. O bonitão – ela falava. Juca, como os amigos chamavam desde criança, chegou aos 55 anos em plena forma. Surfista, mergulhador, velejador. Um homem do mar, mas que não tinha nada de velho. Mal parecia ter passado dos 40. Empresário, bem sucedido. Inteligente e bacana. Tudo de bom.
Ela jogou todas as fichas. Passado um tempo, eles se encontram. Não por acaso. Anita se matricula num curso de inglês ao lado do prédio onde Juca trabalha. A aula terminando rigorosamente na hora em que ele sai do escritório. É claro que iam acabar se esbarrando.
Era uma quarta-feira. Juca, duas ex-mulheres, dois filhos, um de cada casamento, uma namorada fixa. Indo pra Suécia no dia seguinte. Anita, um ex-marido, vários ex-namorados. E de viagem marcada pra Paris na sexta.
Os dois saem pra um café, um papo que vai se estendendo e acaba em jantar, vinho e muita azaração de parte a parte. Acabam marcando encontro na cidade, que pra qualquer casal significa romance à vista.
Anita chega a Paris no sábado, um dia antes de Juca. No domingo à tarde ele estaria de volta do congresso na Suécia. Ela compra velas aromáticas na Occitane, redescobre os cantinhos mais lindos de Paris. Lista cada bistrô que quer levar Juca.
Quando ele chega ao hotel, já encontra tudo arrumado: vinho, duas taças, queijinhos, as velas acesas no banheiro, na mesinha de cabeceira. E Anita.
Parecia cena de filme – ela conta. E, obviamente, uma semana inteira de cenas de muitos filmes se desenrolaram entre as pontes do Sena, a Ile de Saint-Louis , o Champ des Mars e a Torre iluminada, a Place des Vosges, o Marais, o Champs Elysées e o Arco e tudo o mais que possa atiçar a imaginação de qualquer pessoa sobre a terra sobre o que seja namorar em Paris.
Depois, o Rio de Janeiro. E nada de Juca. Passa o tempo, rola um novo encontro, uma namoradinha aqui, outra ali. Tudo escondido. E novo sumiço. Anita, tomada de amores pelo bonitão, não agüenta e chama o cara pra um jantar na casa dela. Com outras pessoas, claro. Amigos, gente animada.
Juca diz que vai. Ela capricha no menu. Compra vinho e champagne. Põe a mesa mais linda. Veste a roupinha mais informal, casual e sexy que tem no armário.
Chegam os amigos. O telefone toca. É Juca.
- Posso levar a Verinha?
- Como assim?
- Verinha, minha namorada. Já te falei dela. Queria muito te apresentar.
Estava dado o recado. E o romance dos sonhos de Anita virou uma espécie de Casablanca pela metade. Ela sempre terá Paris.

Sandra Moreyra

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

HARMONIZAÇÃO

Harmonização.
É mais do que uma combinação.
É o casamento perfeito entre duas ou mais coisas ou pessoas.

Quando a química de um se harmoniza com a do outro,
e nada sobressai.
Não falta nada e nada sobra.

A harmonização potencializa as características de cada um,
Gerando um todo que não é um, nem outro, é todo, é tudo!

Harmonia produz prazer.
Harmonia seduz.
Harmonia gera.
Harmonia transforma.
Harmonia encanta.

Uma vez experimentada é inesquecível.
Não se pode negar aquilo que se conhece.
mesmo que não se saiba exatamente o que é.
A experiência será sempre um referencial.

Para uma próxima harmonização.

MARINA

terça-feira, 18 de setembro de 2007

TEMPO
Senhor do tempo,
se pudesse estar presente,
não haveriam dúvidas.

Se vivesse o presente a cada momento
não haveria futuro, só o presente.

Esqueço o passado,
Tenho que estar presente.
- Como, Senhor do Tempo ? Como ?

Conexão com o Universo.
Conexão com o Universo Interior.
Cada respiração,
Uma vida.

Se apenas aprendesse a respirar,
Talvez aprendesse o tempo.

O tempo de cada coisa.
O tempo de cada um.
O meu tempo.

MARINA

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

RIO

“Rio cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos.”

Praia de Ipanema às 9:00hs da manhã; céu azul turquesa sem uma nuvem, mar transparente trazendo para areia conchas e mariscos, traineiras coloridas pescando e varas de pesca fincadas na areia na esperança de peixe.
Paraíso urbano, privilégio de alguns que reservam algum tempo de seu dia para aproveitar esta beleza de balneário em que vivemos. Spa, academia a céu aberto onde se respira saúde trazida pelo vento leste.

Aí..... me lembro que minha scooter foi roubada no Leblon, onde sempre paro para trabalhar. O filho de uma amiga foi socado ao sair de uma festa por pivetes que só queriam se divertir. Uma sobrinha foi ameaçada por dois marginais que lhe roubaram tudo e a deixaram em estado de pânico e medo, difíceis de esquecer.

Como viver em uma cidade de lados tão opostos ? Políticos corruptos absorvidos por outros políticos, com certeza tão corrompidos quanto.
Com que exemplo educamos nossos filhos ?
Cidade sem educação, ricos que estudam em escolas caríssimas e arrotam arrogância. Uma sociedade onde o dinheiro e o consumo são o referencial para a classificação de todo ser humano.

Sinto muito pelo o que estamos vivendo.... o inferno, enquanto o paraíso fica bem ao lado.

MARINA

quarta-feira, 12 de setembro de 2007



É IMPERDÍVEL A EXPOSIÇÃO DE LUMINÁRIAS DE BIANCA BARBATO NA LOJA DAQUI, NA RUA ATAULFO DE PAIVA-LEBLON.
SÃO LINDAS !!!! DÁ VONTADE DE LEVAR TODAS PARA CASA !!!!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

ENCONTRO

Ele vinha andando,
Distraído, confuso.
Talvez estivesse indo à algum lugar.
Seu andar era lento,
arrastado.....

Entardecer.
As montanhas marcavam sua presença.
O delinear de tudo.

Ela vinha correndo.
Suando.
Pensava nele.
A noite que estiveram juntos.
A música tocava alto no fone.

O ar estava fresco.
A vida pulsava forte.

Ele a viu de longe.
Não pensou.
Quando se aproximaram,
Ela o viu.
Se olharam,
Se tocaram, comprimentaram.
Passaram.
Se arrependeram.

Talvez tenham outra chance.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

AS LENTES DO HORROR E AS AGULHAS DO ENCANTO

- É a coisa mais fácil do mundo. Além do quê, você nunca mais vai precisar ficar tirando e botando aquele treco na cara, ou se lamentando que botou em algum lugar e não acha, justamente porque está sem os óculos.

Sabe aqueles caríssimos óculos importados que você levou horas pra escolher, dias pensando pra enfim decidir que merecia e que – claro - lhe custaram quase uma viagem à Itália? Coisa do passado.

Imaginem nunca mais esquecer de levar os óculos pro trabalho e passar o dia pedindo para os outros lerem coisas para você. Ou ter que pedir para a sua estagiária dar uma força pra titia e aumentar as letras do computador? E ler cardápio de restaurante? Um sonho. Voltar a ver tudo de perto e de longe e ver bem. Uma maravilha. Só quem precisa de óculos para ler estas palavras pode avaliar o que isto significa.

Parecia mesmo muito simples e fácil. Mas a oftalmologista levou um ano inteiro para me convencer a testar as tais das novas lentes de contato multifocais. Material de primeira. Importado. Feito para olhos sensíveis. Lentes descartáveis que duram um mês. Você compra uma caixa e só repõe seis meses depois.

O teste no consultório já demonstrava minha falta de jeito: Lente no dedo indicador, levantar a pálpebra superior com o dedo do meio. Abrir bem o olho, e num piscar de olhos a lente tá lá dentro. Num piscar de olhos dela, que é profissional do ramo, porque eu fiquei toda enrolada.
Mas depois de algumas tentativas, já me sentia o máximo. Lia tudo. Até as letrinhas mais minúsculas da cartelinha de teste.

Até que Edna, a oftalmologista mostra o espelho da sala.

- Agora, Regina olha de longe. Tudo bem?
- Um horror!

E eu tampava a cara.

- Tá incomodando?
- Muito.
- Um olho? Os dois?
- Não é o olho. Sou eu.

Pois é, pela primeira vez em muitos anos, eu me via perfeitamente, em todos os detalhes.
Bolsas sob os olhos, pés de galinha, um pescoço de peru velho e rugas. Muitas rugas.
Um milhão de depressões e marcas que eu nunca antes enxergara.
Chego à conclusão de que a tal "vista cansada" é uma sabedoria da natureza. A gente não se vê direito justamente para não sofrer com isso. Nem vê os outros. Porque passei também a ver defeito em tudo. Até a oftalmologista que é mais jovem , bonita pra caramba , sempre bem vestidérrima, daquelas mulheres inteiraças que fazem com um pé nas costas, tudo aquilo que a gente morre de vontade e de medo de fazer: lifting , lipo, peito. Pois mesmo nela eu via defeitos invisíveis a olho nu. Piores, só mesmo os meus.

Saí do consultório inconformada com aquelas rugas, mas ainda tentando me convencer de que recuperar a visão nota mil era um ótimo negócio. Comprei um espelho de aumento – indispensável para botar e tirar as novas lentes. Gastei uma pequena fortuna.

De tarde, já me achava uma craque no manejo das pequenas maravilhas. Chamei minha melhor amiga e voamos para o consultório da dermatologista, para dar um jeito nos horrores da face. Em uma hora, com algumas agulhadas e uma dose razoável de sofrimento a doutora manda embora as depressões da minha pele e da minha alma. Sem dúvida, a tecnologia é uma vitória contra o tempo. Não custa pouco. Vale cada centavo.

No dia seguinte, depois de uns dias de férias, ia voltar ao trabalho. E queria impressionar.
Antes de sair de casa, toda prosa, fui botar as maravilhosas lentes para ler tudo sem óculos, de bula de remédio até placa de rua a cem metros de distância. E ainda por cima ia aparecer com uma pele dez anos mais jovem! Que espetáculo!

Quem diz que consegui? Meia hora de tentativas e uma das lentes simplesmente desapareceu no espaço-tempo de Einstein. A outra, depois de revirar o banheiro, achei toda enroladinha como um microscópico harumaki atrás da balança.
Em 24 horas, tudo acabado.

Saí de casa super atrasada, de óculos e convencida de que definitivamente não tenho a menor competência para usar lentes de contato. Ainda bem que foi apenas um teste gratuito.
Prefiro gastar meu suado dinheirinho na dermatologista. Dá muito mais prazer e o encanto não acaba no dia seguinte. Todo mundo elogiou minha pele.

Sandra Moreyra

RATATOUILLE

RATATOUILLE O FILME

Mês passado foi estréia do desenho animado da Disney, Ratatouille em Paris. O filme conta a historia de um rato que com seu paladar aguçado, se envolve no mundo da gastronomia dentro do restaurante de um renomado chef francês em Paris.

Alguns chefs estrelados, como Guy Savoy, abriram as portas de seus restaurantes para receber a equipe da Disney para que pudessem vivenciar o universo de uma cozinha e assim retrata-lo de forma fiel no cinema.

A estréia do filme foi sensação em Paris, as vitrines de grandes marcas foram montadas com este motivo. A badalada Colette, na rua Saint Honoré, montou sua vitrine com queijos gigantes onde milhares de ratos subiam pelas paredes. O jovem rato chef virou cidadão parisiense e querido de todos.
A loja de exterminadores de ratos em Lê Halle, super bem retratada no filme, virou ponto turístico onde parisienses param para serem fotografados.

O filme é realmente muito bom. Para quem conhece do metier vê em detalhes o dia a dia dos bastidores dos restaurantes serem mostrados de forma lúdica e humorada. Um rato chef !!! Não poderia haver maior heresia.

Todos os personagens encarnam suas características; o chef estressado, o jovem aprendiz, a mulher discriminada, e não podia faltar o taciturno crítico. A equipe de cozinha que ao ser apresentada, revela a loucura de todo aquele que se aventura neste ramo.
Estes dias ouvi de um amigo dono de restaurante: - Ninguém que trabalha nesta área pode ser normal !!! O trabalho é estressante, o horário noturno, o dia a dia fatigante e o prazer inexplicável de estar em equipe dentro de uma cozinha.

Alguns artifícios são usados com muita sutileza pelos diretores do filme, para demonstrar a importância da gastronomia e as experiências que se tem com ela. Toda vez que se prova uma comida deliciosa, luzes e espirais coloridas aparecem na tela dando a sensação de uma experiência deliciosa.
O crítico, intocável e cruel, é tocado quando prova a “Ratatouille” e neste momento vem à sua memória, num jogo do tempo, sua infancia, o mesmo prato que sua mãe preparava para ele. Esta cena reproduz o trabalho do renomado chef Heston Blumenthal que usa a memória como fio condutor de suas experiências.

Recomendo o filme; por sua história, pelos cativantes personagens, e pela Disney que mais uma vez me surpreendeu fazendo um filme com conteúdo, humor e “algo” mais que vendo para saber.

Marina Hirsch

sábado, 1 de setembro de 2007

Meu Adorável Cafajeste

Denise estava farta de saber. A informação fora registrada há mais de vinte anos, clara como aquele sorriso sacana, sedutor, devastador: Joca não resistia (nem tentava) a um rabo de saia. Ela chegou a pensar que depois do longo casamento, dos filhos, o sujeito tivesse mudado de hábitos. Foi prevenida: “Joca continua o mesmo: fácil de pegar, mas é só para ter sexo”. Denise quis testar. Saíram, dormiram encaixadinhos, tomaram café da manhã. Ele disse coisas fofas, como ter imaginado seu casamento indestrutível. Denise achou seus sentimentos bonitos. Encantou-se. Dois dias depois, quando deveriam almoçar, ele ligou desmarcando. Explicou que estava “meio envolvido” com uma moça, “muito intuitiva”, que acabara de chegar de surpresa em seu consultório. Pronto, Joca continuava o mesmo.
Com o surgimento de outro alvo de atenção, Denise desencanou. Médicos os dois, Denise e Joca continuaram a se encontrar eventualmente num dos hospitais em que trabalhavam. Na semana do Natal, finalmente almoçaram. No início do ano, também. Os meses passaram, o alvo de Denise saiu de foco. Ela nem se lembrava mais de Joca, quando o destino tornou a esbarrá-los num dos corredores do hospital. Um dia ele ligou, esperou-a sair do plantão, mas ela não apareceu. “O que esse cara tá pensando, que estou aqui para quando estalar os dedos?” Achou aquele assédio uma chatice. De repente, sem que Denise se lembre como aconteceu, Joca passou a ser parceiro de almoço, o refresco nas pausas do trabalho, um querido companheiro. Quando se deu conta, falar com Joca tornara-se uma necessidade diária. Preocupou-se quando passou a acordar pensando nele, mas não fez nada para evitar. “Estou vacinada, não tenho nada a temer”, convenceu-se.
Denise sempre soube que se não quisesse se aborrecer, e não queria, muito menos com Joca, a relação deveria se limitar às quatro paredes de seu apartamento. Mas a amizade foi prosperando, e o tesão seguindo no rastro. Denise achava Joca desorientado, tinha vontade de protegê-lo, de dar rumo à vida dele. Aliás, essa era uma lição que Denise não aprendia. O primeiro namorado após sua separação, depois de proferir três pérolas da Ignorância Universal, sem saber, foi designado por ela a cumprir duas semanas de sexo intenso e seguir em frente. As duas semanas duraram quase um ano. No final, apaixonada, acreditava que uma simples lapidação transformaria aquela pedra bruta num belíssimo diamante: neurologista (para o descontrole emocional), analista (para o meio século de traumas), professor de Português (para a vasta ignorância da própria língua), umas viagens aqui e ali (para a ignorância em geral). Ah, e um empurrãozinho que ela mesma daria, já que o cara, claro, era um duro.
Voltando ao Joca, em matéria de sexo houve algumas bolas fora. Outras dentro. Ela considerou positiva essa inconstância, assim não ficaria subjugada pelo desejo. Com o passar do tempo, Denise já estava achando que Joca nem era tão cafajeste assim, que, afinal, os brutos também amavam. Sonso era o outro, Joca era sincero. Sendo assim, não viu mal algum em ir à inauguração de um bar com ele e uma amiga comum. Que vexame ele poderia dar? Just in case, separou dinheiro trocado para voltar de táxi.
O lugar estava cheio, entraram à procura do bar. Nos primeiros cinco minutos, Joca se comportou como um homem normal, pegou um drinque pra ela. Quando iam se falar, mais rápido que um piscar de olhos, evaporou. Ela não entendeu nada, Joca teria sido vítima de um seqüestro relâmpago? Deu uma olhada em volta, quando o viu com aquele sorriso sacana, garrafinha de cerveja na mão, sem a menor cerimônia, jogando charme para uma morena. Não foi coisa rápida. Por ali ficou até ir embora. Depois de longo tempo sozinha à mesa, a amiga em comum voltou.
- Realmente, com esse Joca não dá pra botar o pé na rua. Que grosseria me deixar aqui plantada. Ainda que nunca tivéssemos tido nada.....
Sorriso amarelo, Joca teve que passar pela mesa para poder pegar mais bebida no bar. Chegou preparado para as broncas a que está acostumado a levar. Denise não se deu ao trabalho. Não pretende namorar nem casar com Joca. Aprendeu que é inútil desejar algo de quem não o tem pra dar. Voltou de carro com ele e Verinha. Na curta distância entre a casa de Verinha e a sua, pensou se não seria muita falta de respeito consigo mesma dormir com Joca naquela noite. Preferiu não levar a sério.

Tiveram a melhor entre todas as noites de sexo.

Ticiana